quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Roda de Capoeira: Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade


Mais um reconhecimento importante da arte capoeira, Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. 
Mais do que nunca agora é importante a união dos capoeiristas de todo Brasil e de todo o mundo, para que este reconhecimento se estenda aos mestres e demais propagadores deste saber ancestral. A união faz a força!!!


Evento "Capoeira sem Fronteiras" 2014 - Mestre Junior - Escola Aú Capoeira Nova Zelândia

Assista ao vídeo no link:

https://www.youtube.com/watch?v=bb4q3KCcxGU

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Iê Viva Pastinha

Há exatos 33 anos, em 13 de novembro de 1981, o mundo perdia um dos maiores ícones da capoeira angola: o saudoso mestre Pastinha – Vicente Ferreira Pastinha (1889- 1981). Mestre Pastinha deu uma contribuição sem igual à prática da capoeira, fazendo nascer uma vertente autêntica, de identidade muito própria, que ganhou o mundo e se fortalece cada vez mais - hoje denominada “escola pastiniana”.

Entre as décadas de 1940 e 1970, em um contexto marcado pela dualidade (enquanto mestre Bimba – Manuel dos Reis Machado, 1899 – 1974, igualmente com sua grandeza de espírito, trabalhava em prol da capoeira por ele reinventada, - a luta regional baiana), mestre Pastinha fazia história divulgando a capoeira angola pelo Brasil e pelo mundo. A história da capoeira não seria a mesma sem a contribuição destes dois importantes mestres!
Mas a existência do Centro Esportivo de Capoeira Angola - CECA, que vigorou por quatro décadas sob coordenação de Pastinha, se deve também à contribuição de outros mestres pouco lembrados pela história da capoeira, mas de igual importância para a configuração desta arte na atualidade. Ao que contam as fontes até hoje estudadas, a criação do CECA foi uma articulação de mestres da antiga velha guarda da capoeira baiana, dentre eles, destaco mestre Aberrê, mestre Noronha, mestre Maré, mestre Amorzinho e Samuel Querido de Deus. Estes “bambas”, na ocasião da famosa roda da Gengibirra, em Salvador, “entregaram” a direção do centro para mestre Pastinha. Pastinha afirma que estava afastado da capoeira há 30 anos e de início relutou em aceitar o convite. Mas por fim terminou aceitando o desafio e foi glorioso em sua missão!
Mestre Pastinha, assim como mestre Bimba com a regional, imprimiu sua identidade à capoeira angola do CECA. Criou seqüências de treinamento, uniformizou seus alunos, valorizou a ludicidade, a brincadeira, a camaradagem, fazendo nascer um estilo de vivenciar a capoeira muito mais enquanto uma brincadeira, do que uma luta. Estilo que contagiou gerações! Mas o mestre alertava para a capoeira luta, como uma defesa e como afirma seu discípulo, mestre Curió:

 Ele [Pastinha] não era violento, e ele combatia muito a violência. Ele dizia que capoeira não era violência, a capoeira era arte, dança, mandinga, malícia, filosofia, educação, cultura, e na hora da dor é que ela passava a ser uma luta perigosíssima.

Iê viva Pastinha! Ao mestre minha eterna gratidão!


Serena Capoeira 

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Corpo angoleiro e mente transdisciplinar: uma trajetória marcada por diversidades e adversidades

Por Serena Capoeira*

A Escola Transdisciplinar Aú Capoeira é, sem sombra de dúvidas, uma instituição que surge como um marco na história das relações existentes no mundo da capoeira. Isso, por ela propor, a partir da iniciativa e protagonismo de seu criador, mestre Pop, a reflexão profunda sobre os paradigmas e paradoxos tão presentes neste universo. Mestre Pop vem disseminando, em diversos ambientes, sementes da transdisciplinaridade, que a grosso modo, deve ser entendida como uma “atitude de aceitação do outro e seu conhecimento”. Não há um método a ser seguido, mas sim uma compreensão da realidade existente, e com isso uma atitude de respeito, de empatia e aceitação do diferente.
O universo da capoeira é marcado fortemente por estes paradigmas e conseqüentes paradoxos, que o dividem em “ilhas de saberes”, como diria mestre Pop. Minha trajetória na capoeira é marcada fortemente por esta realidade. Quando iniciei neste universo, no fim da década de 1990, minha realidade era a capoeira angola “tradicional”, da vertente de mestre Pastinha, em especial o trabalho realizado pelo contramestre Lagartixa, do Grupo de Capoeira Angola Mãe, realizado na Lagoa do Peri, ao sul da ilha de Santa Catarina. Ali, no convívio com capoeiristas daquele universo, forjei minhas verdades e minhas concepções sobre o que é a capoeira e seus fundamentos. Um universo encantador, mágico e envolvente, onde a capoeira é vadiada, brincada, jogada e o respeito à integridade física do outro, deve prevalecer acima de tudo. A figura de mestre Pastinha é respeitada e reverenciada, como o grande detentor do saber da capoeira angola. E não poderia ser diferente...
Foi preciso, porém, eu sair daquele universo e ingressar em outro, para começar a fazer uma reflexão sobre o quanto as “verdades” da capoeira nos separam, enquanto capoeiristas e enquanto seres humanos. Foi olhando “de fora”, que pude perceber como aquele universo, do qual me identificava e admirava tanto, em via de regra era, no fundo, repleto de preconceitos e adversidades com outras formas de conceber a capoeira. Por razões que não são relevantes neste artigo, terminei me afastando do Grupo Angola Mãe e ingressei no Grupo de Capoeira Angola Palmares. Foi ali, em 2001, com contra mestre (hoje mestre) Adão, que dei continuidade à capoeira angola, por cerca de mais quatro anos. Capoeira angola! E foi neste contexto, que pela primeira vez, vivi na pela a “dicotomia da capoeira”. Por diversas vezes, ouvi a frase, proferida por parte de meus “antigos” colegas de capoeira: “na Palmares não é angola”! E eu retrucava: “é angola”! E vinha a tréplica: “não é angola”! Bem, à época, não me aprofundei ideologicamente na questão, para saber se é angola ou não, mas o diagnóstico que pude constatar, é que para os praticantes da dita “angola tradicional”, somente eles, seguidores de mestre Pastinha, poderiam dizer-se angoleiros.
Segui com meus aprendizados em capoeira “angola”, com mestre Adão, do Grupo Palmares, por cerca de quatro anos - até 2005. Ali, redescobri a capoeira, para além de Pastinha. A capoeira negra, a herança do negro africano escravizado no Brasil. Conheci o Maculelê, a Puxada de Rede e o Samba de Roda. Entendi a força da capoeira angola e a sua origem. A África passou a pulsar em minhas veias. Neste contexto, por falta de tempo, me afastei fisicamente da capoeira, e fiquei por quase dois anos parada, treinando eventualmente em um ou outro local. E foi em 2007, que retornei aos treinos sistemáticos, novamente na angola de Pastinha, desta vez com dois alunos de contramestre Lagartixa – Jeoh e Osmar. Eu já estava com tanta sede de treinar capoeira, que mergulhei fundo nos ensinamentos daquela vertente de capoeira da qual, no fundo, sempre meu coração bateu mais forte (apesar de sua ideologia segregadora).
E foi nestas idas e vindas de minha trajetória, por fim me encontrei ideologicamente, quando conheci pessoalmente mestre Pop, da Escola Aú Capoeira e seu olhar para a capoeira. Conversávamos bastante, e ele, com suas provocações, me fez questionar minhas próprias verdades. Me fez, através de nossas conversas, passar a ver a capoeira com outros olhos, entendendo que nela há muitas verdades. Passaram-se meses, e foi em 2008, que decidi, por uma questão ideológica, entrar para a Escola Aú Capoeira. A reflexão sobre a capoeira foi tão forte, que até escrevi meu trabalho de conclusão de curso de graduação em história – UFSC-, justamente sobre o “discurso” angoleiro, tão presente em minha trajetória.
Nestes seis anos de Escola Aú Capoeira, através de muito estudo e reflexão, pude perceber que não são só os “angoleiros” que têm discursos sectários. Esta é uma realidade bastante presente nas diversas vertentes de capoeira.  Existe uma forte cultura em diminuir e desqualificar o “outro”, o “diferente”, para impor uma auto-qualificação. Esta desqualificação do outro se dá tanto a nível físico, na hora do jogo, quanto no aspecto ideológico. E mais, vai além do universo da capoeira, estando presente no íntimo do ser humano.
Mas como seria possível superar estas dicotomias? E para que, e porque se faz necessário superá-las? Mestre Pop ousou apoderar-se de um “conceito” acadêmico para aplicá-lo à uma realidade da cultura popular. Trouxe algo teórico, para a prática. Isso porque a transdisciplinaridade não é um método, mas sim uma atitude e uma forma de compreensão do mundo presente. É um “conceito’ das ciências da educação, que visa unir as disciplinar, pela compreensão do que está “entre”, “através” e “além” de cada disciplina. Desta forma, os saberes que se configuravam ilhados, separados, passam a dialogar entre si permanentemente e mais que isso, compreender que sua existência depende da existência dos outros. Neste sentido acredito que somente através de uma mente transdisciplinar e de uma atitude transdisciplinar, poderemos superar estas mazelas, em prol da verdadeira união desta arte tão completa e tão rica. Este entendimento devemos a nomes como Edgard Morim, Basarab Nicolesco e tantos outros, que através da transdisciplinaridade buscam um mundo mais harmonioso e menos preconceituoso, mais fraterno e menos egocêntrico.
Desta forma, em uma escola de capoeira transdisciplinar, o que importa é o olhar para o mundo, para o outro e para si mesmo. A capoeira deve ser um meio e não o fim. Na Escola Transdisciplinar Aú Capoeira podemos ser angoleiros, regionalistas, contemporâneos, só não podemos ser fechados em nós mesmos. Eu escolhi ser angoleira e outros colegas da escola escolheram outras vertentes. Há capoeiristas da chamada contemporânea e da angola do meio, unidos em uma única escola e modo de ver o mundo da capoeira, que é a transdisciplinaridade. Eu escolhi ser angoleira, por me identificar com a forma de conceber os fundamentos da capoeira através de mestre Pastinha, onde a rivalidade, a perversidade, a dita “maldade” do jogo, devem ser substituídas pela harmonização, pela brincadeira e ludicidade do jogo, onde as formas de “marcar ponto” são muito particulares (como bem expressou meu amigo professor Drauzio Branco). Mestre Pastinha nos ensinou a respeitar o companheiro de jogo acima de tudo, pois ele não é nosso inimigo. Ensinou que a capoeira não deve ser violenta, mas sim perigosa.  É isso que considero como critério para ser angoleira. Não preciso desmerecer a capoeira contemporânea, nem a capoeira regional e muito menos a “angola do meio” ou qualquer outra, para ser angoleira. Por isso sou angoleira sim, mas com uma mente e atitudes transdisciplinares.
A transdisciplinaridade, portanto é a razão de nossa escola. Neste sentido, para finalizar, trago aqui uma noção dos povos de língua bantu, da África sub-saariana, como reflexão. Trata-se do termo “ubuntu”, que é uma noção que exprime a consciência da relação entre o indivíduo e a comunidade.  Ubuntu pode ser traduzida como “eu sou, porque nós somos”, ou “a minha humanidade está inextricavelmente ligada à sua humanidade”.

Reflita e ajude-nos a construir uma sociedade menos individualista e narcisista!

* Paola Vicenzi Franco

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

PALESTRAS COM MESTRE POP

Assista as palestras de mestre Pop, e repense seus conceitos sobre a capoeira e os paradigmas construídos pelo determinismo e pragmatismo históricos!